quarta-feira, 6 de outubro de 2010

VISÃO 1

VISÃO 1

Não, não conheço nada e quanto mais eu conheço, mais quero beijar minhas pílulas.
Não tenho nada que poderei levar comigo para a tal da outra vida, ou para o verdadeiro vazio. Nada, nem um conhecimento. De que vale um conhecimento no vácuo? Almas no vácuo. Almas vazias. O que vale?
Só sei que queria saber menos que o nada que eu sei. Quanto mais vazio, melhor. Não ter a consciência do saber, do não saber. Ser, existir, pela pura e inevitável existência. Questionar menos, respirar mais.
Ser manipulavelmente feliz, manipulavelmente oco, o que for.
Não é obedecer, é ser "tanto faz". Não é que eu espero tudo isto acabar. Tá, eu espero, mas eu queria não saber disso. Queria imaginar que estou vivendo normalmente, mas sem adquirir conhecimento algum, amor algum, apego algum. Já ouviu  falar em amor? Tudo mentira. Tudo de plástico. Não, tudo de farinha. Não, também não é isso. Amor é mentira. Amor é algo que inventaram para ser mais suportável viver, pobre deles que não sabem o prejuízo que traz. Mas tanto faz, você não vai levar seu amor, nem sua amada pra porra do nada. A questão é não pensar nisso, já  disse, não questionar.
O que eu faço?!? Sei lá, ando. Não, não admiro a paisagem, não admiro nada. Preferia ser cego, surdo, analfabeto, sem tato, sem olfato, sem paladar. Só não ser mudo. Sou a favor da forma de expressão, seja lá como for, seja lá porquê. Passaria meus dias gritando. Gritando não sei o quê, mas gritando. Sei, não iria ouvir. Será que eu sentiria algo? Êxtase e prazer seco, únicas coisas boas de se desfrutar que temos por aqui.
Me disseram uma vez que toda essa minha opinião faz parte de algum tipo de conhecimento meu. Conhecimento inútil, claro. Me questionei se conhecimento inútil é válido. Mas que merda, claro que não é válido e não existe conhecimento útil. Se um conhecimento que te leva a ter a bunda em um lugar mais macio e o estômago mais cheio por menos tempo e menos dinheiro (dinheiro!) é útil é porque ninguém aqui sabe viver!
Seres humanos, bem humanos, sendo preparados maquinalmente bem quentinhos e confortáveis apenas para o dia em que se desligarem e deixarem tudo aqui sem dono. Enquanto isso, os sem-porra-nenhuma, sem-nada-no-estômago, sofrendo e se iludindo, pedindo o mínimo, mas desejando a vida perfeita de um dia comer caviar. Grandes sobreviventes. Os confortáveis, claro. É isso tudo que você quer conhecer?

(2006)

Nenhum comentário:

Postar um comentário